Uma verdadeira peça de teatro perturba o repouso dos sentidos, libera o incosciente comprimido, leva uma espécie de revolta virtual e que aliás só poderá assumir todo seu valor se permanecer virtual, impõe às coletividades reunidas uma atitude heróica difícil.
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O teatro, como a peste, é uma crise que se resolve pela morte ou pela cura. E a peste é um mal superior porque é uma crise completa após a qual resta apenas a morte ou uma extrema purificação. também o teatro é um mal porque é o equilíbrio supremo que não se adquire sem destruição. Ele convida o espírito a um delírio que exalta suas energias; e para terminar pode-se observar que, do ponto de vista humano, a ação do teatro, como a da peste, é benfazeja pois, levando os homens a se verem como são, faz cair a máscara, põe a descoberto a mentira, a tibieza, a baixeza, o engodo; sacode a inércia asfixiante da matéria que atinge até os dados mais claros dos sentidos; e, revelando para coletividades o poder obscuro delas, sua força oculta, convida-as assumir disante do destino uma atitude heróica e superior que, sem isso, nunca assumiriam.
E a questão que agora se coloca é saber se neste mundo em declínio, que está se suicidando sem perceber, haverá um núcleo de homens capaz de impor essa noção superior do teatro, que devolverá a todos nós o equivalente natural e mágico dos dogmas que não acreditamos mais.
Antonin Artaud
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